Santa Catarina ocupa posição de destaque no cenário nacional. O estado registra renda acima da média, baixo índice de desemprego e um litoral entre os mais procurados do país.
Segundo o último Censo, foi também o campeão em saldo migratório: mais de 503 mil pessoas escolheram SC como novo lar, atraídas pela economia em expansão e pela qualidade de vida.
No entanto, por trás dessa imagem positiva, há um desafio estrutural que impacta tanto a saúde pública quanto a preservação ambiental: o saneamento básico.
Dados do Sistema Nacional de Informações em Saneamento Básico (Sinisa) mostram que apenas 33,97% da população catarinense tem acesso à rede coletora de esgoto. O índice está bem abaixo da média nacional de 59,7% e é inferior ao de alguns estados do Norte e Nordeste.
Reflexos imediatos
Essa fragilidade já trouxe reflexos recentes. No Réveillon de 2023 para 2024, praias de Florianópolis e Balneário Camboriú registraram surtos de viroses.
Especialistas apontam que o colapso do sistema de esgotamento, somado ao grande fluxo de turistas, contribuiu para o problema.
Comparação entre estados
Enquanto São Paulo lidera o ranking com 91,54% da população atendida, Santa Catarina aparece atrás de estados vizinhos como o Paraná (72,87%) e o Rio Grande do Sul (39%).
No cenário nacional, o estado ocupa apenas a 16ª posição, segundo o levantamento mais recente do Sinisa.
Investimento aquém do necessário
O Instituto Trata Brasil alerta que, apesar do bom índice de abastecimento de água em Santa Catarina, que chega a cerca de 90%, o estado segue estagnado no esgotamento sanitário, com apenas 26,6% do esgoto tratado.
Para o coordenador de Relações Institucionais e Comunicação do instituto, André Machado, o problema não é apenas técnico, mas também político.
Ele avalia que os prefeitos precisam compreender que o saneamento básico deve ser tratado como prioridade, já que a tecnologia necessária é conhecida e poderia estar universalizada no país.
Machado também chamou atenção para o baixo nível de investimentos no setor. O aporte médio nacional em saneamento é de R$ 126 por habitante ao ano, valor já inferior ao apontado como ideal pelo Plano Nacional de Saneamento Básico (R$ 223). Em Santa Catarina, o investimento não passa de R$ 104 por habitante ao ano, o que compromete o cumprimento da meta de universalização até 2033.
Consequências para a saúde e o meio ambiente
A insuficiência do sistema representa riscos imediatos à saúde. Doenças como diarreia, dengue e leptospirose podem se agravar com a falta de coleta e tratamento de esgoto.
Além disso, nos locais onde há coleta sem tratamento, os efluentes são lançados diretamente em mananciais, que são as fontes de água doce utilizadas para abastecer a população, comprometendo a qualidade de rios e mares.
Perspectivas e regionalização
Durante o Fórum Novo Saneamento, realizado em agosto, o presidente da Casan (Companhia Catarinense de Águas e Saneamento), Edson Moritz, defendeu a regionalização como estratégia para atrair investimentos privados.
Ele afirmou que essa é a prioridade número um do governo e avaliou que, para alcançar as metas de esgotamento sanitário até 2033, será fundamental a participação do capital privado, prevista para começar a partir de 2027.
Com a consolidação desse modelo, a expectativa é que Santa Catarina receba cerca de R$ 50 bilhões em investimentosna próxima década, direcionados à universalização dos serviços de saneamento.
A proposta prevê o protagonismo dos municípios na governança regional, sob coordenação da Fecam (Federação de Consórcios e Municípios de SC).
A principal fragilidade de SC
Enquanto Santa Catarina se consolida como destino preferido de novos moradores e turistas, especialistas alertam que o estado só manterá sua competitividade se resolver o gargalo do saneamento.
Caso contrário, a imagem de “estado mais cobiçado do Brasil” seguirá ofuscada por um problema que compromete tanto a saúde da população quanto o futuro de suas praias e cidades.
Fonte: Gazeta do Povo