Órgãos ambientais alertam que resgate de grandes cetáceos exige treinamento especializado e autorização legal
Um caso inusitado e comovente chamou a atenção em Palhoça, na Grande Florianópolis. Um homem entrou no mar e retirou, com as próprias mãos, uma rede de pesca que estava presa ao corpo de uma baleia-franca-austral, que nadava ao lado de seu filhote. A atitude teve grande repercussão nas redes sociais e foi elogiada por muitos, mas também gerou questionamentos por parte de especialistas.
De acordo com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), intervenções diretas em baleias e outros mamíferos marinhos só podem ser feitas por equipes autorizadas, devidamente treinadas e equipadas para esse tipo de operação. O órgão informou que está apurando a conduta do homem que fez a soltura.
A baleia já havia sido vista com a rede presa ao corpo na última quinta-feira (10) por integrantes do ProFRANCA, projeto que monitora as baleias no litoral catarinense. Naquele dia, a fêmea e o filhote estavam em um trecho da praia da Ponta do Papagaio, em Palhoça.
Segundo Paulo Maués, superintendente do Ibama em Santa Catarina, uma análise técnica concluiu que o enrosco era superficial e não interferia no comportamento natural da baleia, como o cuidado com o filhote ou a amamentação. Por isso, os especialistas consideraram que a opção mais segura seria permitir que a rede se soltasse sozinha, o que costuma acontecer com esse tipo de material.
A retirada de redes presas em baleias, conhecida como desmalhe, é uma atividade de alto risco e segue regras específicas estabelecidas por uma portaria do próprio Ibama. Esse tipo de operação exige capacitação técnica, uso de embarcações e ferramentas adequadas, além de autorização legal, para garantir a segurança tanto dos animais quanto das pessoas envolvidas.
Situação recorrente
Segundo o biólogo Eduardo Renault-Braga, gerente do ProFRANCA, esse tipo de ocorrência é relativamente comum na região. Muitas vezes, as baleias-francas passam por redes maiores e parte do material acaba ficando presa nas calosidades da cabeça, que são formações ásperas e esbranquiçadas. Essas marcas funcionam como uma espécie de “impressão digital” da baleia e ajudam os pesquisadores a identificá-la.
De acordo com o pesquisador, o atrito das redes com as calosidades da baleia geralmente é suficiente para romper o material, permitindo que o animal se liberte sozinho. Até o momento em que a rede foi retirada, o comportamento da fêmea e do filhote era considerado normal para o período reprodutivo da espécie, quando é comum que fiquem mais parados ou se movimentem de forma mais lenta. O momento em que o homem, usando uma prancha, se aproxima da baleia e retira a rede foi registrado em vídeo e pode ser visto abaixo ou no perfil do jornal no Instagram.