Medida cogitada por Donald Trump em meio a sanções comerciais ao Brasil pode afetar logística, segurança, agricultura e portos em Santa Catarina
O possível bloqueio do sinal de GPS no Brasil, como resposta a tensões comerciais por parte do governo dos Estados Unidos, ligou um alerta em Santa Catarina, onde diversos setores da economia e serviços públicos dependem dessa tecnologia para operar.
O risco de bloqueio do GPS surge em meio ao chamado “tarifaço” de Donald Trump, que impôs uma taxa de 50% sobre produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos. Há ainda chance de esse percentual subir para até 100%, acompanhado de outras sanções, como o corte do sinal de GPS, que é operado por satélites controlados pelos norte-americanos.
Impactos diretos em SC
Santa Catarina possui programas como o GPS Rural SC, que utiliza o sistema de geolocalização para cadastrar propriedades rurais e facilitar serviços públicos em áreas remotas. Além disso, o estado monitora cerca de 3.800 detentos com tornozeleiras eletrônicas, que dependem de GPS para localização em tempo real.
O funcionamento de portos estratégicos, como os de Itajaí e Imbituba, também pode ser afetado, já que a navegação e a atracação segura de grandes embarcações depende de um posicionamento preciso via satélite, tecnologia diretamente ligada ao sinal de GPS.
Aplicativos como Uber, 99, iFood e sistemas de transporte público, como o “Floripa no Ponto”, também poderiam ser afetados, embora de forma mais limitada. Especialistas explicam que essas plataformas operam em redes globais, como as do Google e da Apple, seria economicamente inviável para essas companhias bloquear seus serviços apenas no Brasil, já que isso traria prejuízos em escala global.
Redes alternativas existem, mas não cobrem tudo
Segundo o pesquisador Xisto Lucas Travassos, do SpaceLab da UFSC, uma possível saída seria recorrer a outros sistemas de geolocalização por satélite, como o Galileo (União Europeia), GLONASS (Rússia) e BeiDou (China), todos integrantes da rede GNSS. A transição, porém, não seria imediata nem simples para os setores que hoje dependem amplamente do GPS norte-americano.
Na área portuária, por exemplo, seria preciso contar com radares terrestres, balizamento eletrônico e investimentos em tecnologia de redundância para compensar a ausência do GPS. Já na segurança pública, uma das alternativas às tornozeleiras eletrônicas com geolocalização seria a adoção de sistemas baseados em rede celular ou radiofrequência, ainda que com limitações em relação à precisão e cobertura.
Bloqueio é improvável, mas alerta segue ligado
Apesar das ameaças, especialistas avaliam que é pouco provável que os Estados Unidos realmente cheguem a bloquear o sinal de GPS para o Brasil. Segundo o pesquisador Xisto Lucas Travassos, da UFSC, essa ação exigiria um esforço técnico enorme e poderia gerar consequências diplomáticas e comerciais negativas para os próprios norte-americanos.
Além disso, desde os anos 2000, uma diretriz do então presidente Bill Clinton proibiu a chamada “disponibilidade seletiva”, o que ampliou o acesso irrestrito ao GPS civil em todo o mundo. Ainda assim, a crise atual funciona como um alerta para a importância de investir em soberania tecnológica, especialmente em áreas estratégicas como logística, defesa, meio ambiente e agropecuária.