Os reflexos do aumento das tarifas impostas pelos Estados Unidos já chegaram a Itapoá. Na semana passada, 13 contêineres de produtos destinados ao mercado norte-americano foram barrados no porto da cidade, o que forçou a devolução da carga à fábrica de origem, no Paraná.
A carga barrada pertencia à Incepa, tradicional empresa do setor de revestimentos cerâmicos, com sede em Campo Largo (PR). Com cerca de 90% da produção voltada ao mercado norte-americano, a companhia foi uma das primeiras a sentir os efeitos do chamado “tarifaço”, um pacote de medidas adotado pelo governo dos Estados Unidos que aumenta o custo de importação de diversos produtos brasileiros.
O presidente da empresa, Sergio Wuaden, afirmou que o cancelamento do pedido representa apenas o início das perdas. Segundo ele, cerca de 80% dos produtos exportados aos Estados Unidos devem perder mercado com as novas tarifas. Wuaden também destacou que a adaptação para outros destinos pode levar de seis meses a um ano, o que preocupa empresas que dependem de um fluxo constante de exportações.
Outro setor já impactado é o madeireiro, que tem forte presença no Sul do país. A Sudati, produtora de compensados e MDF, com fábrica em Otacílio Costa (SC) e outras quatro unidades no Paraná, anunciou que deve demitir ao menos 100 funcionários nas cidades de Ventania e Telêmaco Borba. A empresa informou que a medida busca ajustar a produção à nova realidade imposta pelas tarifas dos Estados Unidos, que estão entre seus principais mercados compradores.
A Millpar, fabricante de molduras e guarnições residenciais voltadas à exportação, também sentiu o impacto das novas tarifas. Para conter os efeitos, a empresa colocou 720 funcionários em férias coletivas desde o dia 14 de julho. As unidades de Guarapuava e Quedas do Iguaçu, no Paraná, tiveram a produção temporariamente suspensa.
Para especialistas em comércio exterior, a forte dependência de mercados como o americano torna as empresas mais expostas a esse tipo de revés. Quando a exportação trava, os portos sentem o impacto de forma imediata, como foi o caso de Itapoá.
Com o aumento no volume de cargas e uma função cada vez mais importante na logística nacional, o Porto de Itapoátem sido mais do que um ponto de embarque. Quando o comércio internacional muda, ele sente primeiro e mostra como o mundo lá fora afeta diretamente a nossa rotina por aqui.