Uma investigação da Polícia Científica de Santa Catarina revelou uma ligação surpreendente entre dois crimes ocorridos a quase 400 quilômetros de distância. Projéteis e estojos encontrados em uma ocorrência em Itapoá, no Norte do estado, foram identificados como sendo da mesma arma usada em um homicídio registrado em Guarapuava, no Paraná.
A descoberta só foi possível graças ao Sistema Nacional de Análise Balística (Sinab), que mantém um banco de dados com vestígios de munição coletados em cenas de crime de todo o país. Foi a primeira vez que Santa Catarina conseguiu identificar uma ligação entre crimes ocorridos em estados diferentes usando o sistema.
Segundo a Polícia Científica, o cruzamento de informações é feito com base nas marcas deixadas no projétil e no estojo no momento do disparo. Essas marcas, gravadas por componentes internos da arma, funcionam como uma espécie de impressão digital, únicas para cada equipamento.
Quando os vestígios de um disparo são recolhidos no local do crime, como parte da munição que foi ejetada ou atravessou algum alvo, eles são fotografados em alta resolução e inseridos no sistema, que compara automaticamente as imagens com os registros do banco nacional.
No caso envolvendo Itapoá e Guarapuava, o sistema apontou uma possível correspondência entre os materiais analisados, o que, na linguagem técnica, é chamado de hit. Para confirmar essa coincidência, os peritos fizeram uma análise mais detalhada em laboratório, usando microscópios e técnicas de comparação minuciosa das marcas deixadas pela arma no momento do disparo.
Todo esse trabalho começa ainda no local do crime. O perito que atende a ocorrência é responsável por coletar os vestígios balísticos, que são os projéteis e estojos deixados pelos disparos. Em alguns casos, o material também pode ser retirado do corpo da vítima, durante atendimentos médicos ou exames feitos no Instituto Médico Legal, após a morte.
Depois disso, o material passa por uma triagem, onde é organizado, identificado, e então seguem para o laboratório de balística da Polícia Científica em Joinville, que opera o sistema Sinab em Santa Catarina.
Mesmo quando a arma de fogo não é apreendida e nenhum suspeito é identificado, o sistema ainda consegue apontar ligações entre diferentes crimes. Isso fortalece as investigações e pode encurtar o caminho até a solução do caso.
A perita-geral da Polícia Científica, Andressa Boer Fronza, destaca que a correlação entre os casos demonstra a força da integração entre os estados, a importância da tecnologia e a eficácia do SINAB.
Segundo ela, Santa Catarina é reconhecida como o estado mais seguro do Brasil, e a atuação da Polícia Científica tem papel fundamental nesse cenário, graças ao trabalho comprometido e técnico das equipes periciais.
A ligação entre os crimes mostra que vestígios recolhidos aqui em Itapoá podem ajudar a resolver casos bem longe daqui. No fim das contas, é isso que a ciência forense faz: trabalha em silêncio, mas faz diferença mesmo quando a gente não vê.
