Na manhã desta quinta-feira (7), Itapoá voltou ao centro de uma operação de alcance nacional. A unidade de saúde gerida pela Organização Social Mahatma Gandhi foi alvo de uma diligência do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), no contexto da Operação Duas Caras, que investiga um esquema bilionário de corrupção e lavagem de dinheiro na área da saúde.
operação teve alcance nacional e não se restringiu a Santa Catarina. Mandados de busca, apreensão e prisão foram cumpridos em mais de 10 cidades brasileiras, incluindo Catanduva (SP), Rio de Janeiro (RJ), Alfredo Chaves (ES), além de Mafra, São José e Itapoá, em Santa Catarina.
De acordo com o Ministério Público de São Paulo, o grupo investigado teria movimentado cerca de R$ 1,6 bilhão de forma ilegal desde 2021. A organização, supostamente liderada por membros da diretoria do Hospital Psiquiátrico Mahatma Gandhi, teria vencido licitações em vários estados e utilizado empresas de fachada, controladas pelos próprios envolvidos, para emitir notas frias e superfaturadas.
Itapoá na rota da investigação
A UPA 24h de Itapoá, atualmente administrada pela organização investigada, recebeu a visita de agentes do Gaecopara o cumprimento de mandados judiciais, que são autorizações da Justiça para entrar em locais, coletar documentos ou fazer buscas relacionadas à investigação.
A ação também resultou na nomeação de interventores, ou seja, profissionais designados pela Justiça para assumir temporariamente a gestão das unidades mantidas pela entidade, enquanto durarem os efeitos da investigação.
Apesar do impacto local, a Prefeitura de Itapoá tratou o caso como uma ação direcionada exclusivamente à empresa investigada, sem relação com a gestão municipal.
Em março de 2025, o município lançou o Chamamento Público nº 02/SMS/2025 com o objetivo de substituir a Organização Mahatma Gandhi na gestão da UPA 24h.
No entanto, o processo foi suspenso judicialmente após a própria empresa, que não venceu a licitação, entrar com um pedido formal para contestar o resultado. Enquanto isso, a entidade segue operando a unidade, e a Prefeitura aguarda manifestação do Ministério Público sobre o mérito da ação, ou seja, se o pedido da organização será ou não aceito de forma definitiva.
Reflexos em outras cidades
Além de Itapoá, os municípios de Mafra e São José também mantêm contratos ativos com a Organização Mahatma Gandhi. A Prefeitura de Mafra confirmou que sua UPA recebeu a visita de agentes do Gaeco, mas informou que nenhum servidor ou gestor municipal está sendo investigado.
Já a gestão de São José afirmou que, até o momento, não foi alvo de nenhuma diligência, termo usado para se referir a ações realizadas pelos investigadores durante o processo, como visitas, buscas ou coletas de documentos.
Mesmo assim, os reflexos da atuação da organização já foram sentidos em diversas localidades onde ela prestou serviços anteriormente. Entre os registros estão relatos de mortes em unidades sob sua administração, um número elevado de ações trabalhistas e suspeitas de má gestão de recursos públicos.
Armas, dinheiro e intervenção
Durante a operação, em diferentes municípios envolvidos, foram apreendidas cinco armas de fogo, algumas com numeração suprimida ou sem documentação obrigatória, além de joias, relógios de alto padrão, mais de R$ 91 mil em dinheiro vivo e moedas estrangeiras.
Em alguns casos, as equipes precisaram forçar a entrada nos imóveis, diante de tentativas de obstrução ao cumprimento dos mandados. As autoridades não detalharam em quais cidades essas apreensões ocorreram.
Apesar da gravidade das denúncias, a Justiça autorizou a manutenção temporária dos contratos por até 30 dias, com o objetivo de evitar a interrupção dos serviços de saúde prestados pela organização nas cidades onde atua, incluindo a UPA de Itapoá.
A diretoria da Organização Mahatma Gandhi ainda não se manifestou sobre a operação. O caso segue em apuração pelas autoridades competentes