Empreendimento de R$ 3 bilhões divide opiniões ao projetar impacto econômico e levantar preocupações sobre pesca, turismo, comércio local e qualidade de vida
A audiência pública realizada em Itapoá, no dia 10 de dezembro, na Associação Comunitária do Pontal do Norte e Figueira do Pontal (Acopof), para apresentação do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) do novo porto privado da Coamo Agroindustrial Cooperativa, confirmou o cronograma preliminar do empreendimento, mas também revelou um cenário de forte oposição por parte de moradores, lideranças locais e representantes do poder público.
O projeto, que prevê investimento de cerca de R$ 3 bilhões, estima o início das obras em 2027 e a operação em 2030, condicionados às licenças ambientais. Conforme apresentado, a Licença Ambiental Prévia (LAP) deve ser emitida no primeiro semestre de 2026, seguida da Licença de Instalação (LI) no segundo semestre.
Preocupações dominam a audiência pública
Apesar da apresentação técnica e do potencial de geração de receita, o clima da audiência foi marcado por críticas e questionamentos. Lideranças políticas e comunitárias afirmaram que a implantação do terminal pode trazer danos à pesca, atividade tradicional da região que é fonte de renda dos moradores, além de impactos diretos no turismo, principal matriz econômica de Itapoá, e no comércio local, que depende da manutenção de um ambiente urbano equilibrado.
Um depoimento de um participante da audiência e que pediu para não ser identificado, sintetizou o sentimento de parte significativa dos presentes: “É um caminho indesejado. Precisamos de investimentos que dialoguem com a identidade de Itapoá, que fortaleçam sua vocação natural e que tragam prosperidade sem comprometer o território e a vida das próximas gerações.”
Os moradores presentes na audiência também apontaram falta de transparência no projeto ao destacarem que, embora o terminal preveja três operações: grãos, fertilizantes e gás, não ficou claro, nem na apresentação técnica nem na documentação disponibilizada pela Coamo, quem será responsável pela operação dos setores de fertilizantes e de gás. Ambos são considerados críticos pela comunidade, devido ao potencial risco e à complexidade logística envolvidos, o que gerou preocupação e cobrança por explicações mais detalhadas.
Segundo relatos colhidos ao final da reunião, houve um entendimento geral entre opositores de que a Coamo não apresentou um projeto adaptado à realidade de Itapoá, mas sim um empreendimento moldado exclusivamente às suas necessidades econômicas e operacionais.
Preocupação com crescimento populacional e falta de contrapartidas
Outro ponto sensível levantado durante a audiência foi a perspectiva de um aumento populacional acelerado após a implantação do porto. Segundo moradores, a chegada de novos trabalhadores, direta ou indiretamente atraídos pela obra, pode pressionar serviços públicos já fragilizados, como saúde, educação, saneamento e mobilidade urbana.
De acordo com os participantes, não houve apresentação de contrapartidas sociais ou urbanísticas por parte da Coamo para compensar tais impactos.
Um dos argumentos que gerou maior apreensão veio do próprio presidente da cooperativa, que, segundo relatos, afirmou que é inviável para a empresa investir além do empreendimento em si. Para parte da comunidade, a declaração reforçou a percepção de que o projeto “não agrega” ao território e coloca em risco a qualidade de vida local.

Críticas ao projeto e incompatibilidade com o Plano Diretor
Representantes de entidades civis e profissionais presentes também contestaram aspectos técnicos do projeto. Segundo eles, o terminal de grãos proposto estaria fora do padrão para a região, além de apresentar omissões consideradas graves no EIA-RIMA.
Os opositores afirmam ainda que o projeto não é compatível com o Plano Diretor de Itapoá, que orienta o desenvolvimento urbano priorizando atividades turísticas, ambientais e de baixa densidade industrial, vocações que, segundo eles, seriam prejudicadas pela instalação de um porto de grande porte voltado majoritariamente ao agronegócio.
Capacidade operacional e projeções econômicas
Apesar da controvérsia, os números apresentados pela Coamo e pela DTA Engenharia demonstram a magnitude do empreendimento. O terminal terá capacidade de movimentar até 10,9 milhões de toneladas por ano, incluindo soja, milho, fertilizantes e derivados de petróleo, como GLP. A previsão é que, em dez anos de operação, passem pelo local cerca de 835 caminhões por dia.
A estimativa de arrecadação para 2035 aponta R$ 39 milhões anuais em ISS e IPTU, além de R$ 78 milhões em PIS e Cofins.
Infraestrutura prevista
O acesso ao terminal será feito pela estrada José Alves, com implantação de uma rotatória e reforço da sinalização. Também está prevista uma área de triagem com 400 vagas na SC-416. Segundo o relatório técnico, as rodovias José Alves, SC-416 e SC-417 têm capacidade física para suportar o aumento, mas exigirão ações administrativas e operacionais conjuntas entre empresa e poder público.
Um futuro ainda incerto
Localizado próximo ao Porto Itapoá, inaugurado em 2011, o novo terminal seria o oitavo porto catarinense. Para a Coamo, o empreendimento representa a solução de gargalos logísticos no Paraná e a ampliação da competitividade das exportações do Sul do país.
Entretanto, diante das críticas, questionamentos e da forte resistência manifestada na audiência, o futuro do projeto ainda inspira dúvidas entre moradores e lideranças.
A decisão final dependerá do andamento do licenciamento ambiental, das complementações solicitadas pelos órgãos competentes e do posicionamento político e social que Itapoá adotará diante de um dos mais impactantes empreendimentos já planejados para a região.










